ATA DA TRIGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 25.08.1992.

 


Aos vinte e cinco dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa e dois reuniu-se, na sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima Terceira Sessão Solene da Quarta Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às dezessete horas e trinta e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos de presente Sessão Solene destinada a entregar o Título Honorífico de Cidadã Emérita à Senhora Francisca Brizola Rotta, concedido através do Requerimento nº 30/91 (Processo nº 2010/91), de autoria do Vereador Nereu D’Ávila. A seguir, o Senhor Presidente convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Dilamar Machado, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Senhora Francisca Brizola Rotta, Homenageada; Senhor Júlio Roberto Hocsman, Secretário Estadual da Saúde e Meio Ambiente; Doutor Maíldes Alves de Mello, Representante da OAB/RS; Doutora Lícia Peres, Presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher; Jornalista Firmino de Sá Cardoso, Representante da Associação Riograndense de Imprensa e Professora Maria Augusta Feldmann, Presidente do Centro de Professores do Rio Grande do Sul. Ainda, como extensão da Mesa: Jornalista Carlos Bastos, Secretário Estadual de Comunicações. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a todos para ouvirem, de pé, o Hino Nacional. Após, o Senhor Presidente reportou-se acerca da homenagem e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Nereu D’Ávila, proponente e em nome das Bancadas do PT, PTB, PPS, PV, PL e PDS, discorreu sobre a trajetória política da Homenageada e sua luta pela anistia e pelo direito à liberdade. Afirmou que a outorga deste Título representa o desejo dos cidadãos porto-alegrenses e gaúchos. O Vereador Omar Ferri, em nome da Bancada do PDT, questionou se foi em vão a luta pela democracia empreendida pela Homenageada, citando as casos de corrupção que envolvem o atual Presidente da República. Afirmou que é preciso empunhar a bandeira da moralidade e desejou à Homenageada que continue sua luta em beneficio do País, a seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para assistirem, de pé, a entrega do diploma de Cidadã Emérita pelo Vereador Nereu D’Ávila à Homenageada. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra à Homenageada que agradeceu a Homenagem prestada e fez um relato de sua trajetória política. Após, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e trinta e sete minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Dilamar Machado e secretariados pelo Vereador Nereu D’Ávila, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Nereu D’Ávila, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Senhoras e Senhores, na condição de Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, eu tenho a honra de abrir os trabalhos desta Sessão Solene destinada a entregar o título honorífico de Cidadã Emérita a Sra. Francisca Brizola Rotta, nossa querida amiga Quita Brizola, a Requerimento do Ver. Nereu D’Ávila, aprovado pela unanimidade da Câmara Municipal da Cidade. Eu gostaria de explicar aos nossos amigos, convidados presentes, que o título de Cidadão Emérito da Cidade é entregue a pessoas que tenham-se destacado em algum tipo de atividade em beneficio de Porto Alegre. Essa é uma dificuldade que tenho neste momento, dizer em que setor da atividade pública e privada a dona Quita não se destaca. Ela é uma pessoa nossa, ela é mais do que irmã de Brizola, ela é nossa irmã. Nós estamos imensamente felizes em recebê-la e entregar este título em nome da Câmara e anunciarmos além da sua honrosa presença à Mesa, nossa homenageada Francisca Brizola Rotta, também a presença do ilustre Secretário da Saúde e Meio Ambiente do Estado Dr. Julio Hocsman, do representante da Ordem dos Advogados do Brasil Dr. Maíldes Alves de Mello, da excelentíssima Presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher  Dra. Lícia Peres, excelentíssimo Sr. representante da Associação Riograndense de Imprensa jornalista Firmino de Sá Cardoso. Eu gostaria de convidar a compor a Mesa a ilustre Presidente do Centro dos Professores de Estado, Cpers/Sindicato, companheira Maria Augusta Feldmann. Convido a todos os presentes para iniciarmos a solenidade, ouvindo, de pé, o Hino Nacional Brasileiro.

 

(Executado o Hino Nacional Brasileiro.)

 

O SR. PRESIDENTE: Entre tantas pessoas ilustres que nos visitam, gostaria de destacar e considerar extensão da Mesa a presença do ilustre Secretário de Comunicações do Estado, jornalista Carlos Bastos, e ainda o Ver. Elói Guimarães, o Ver. Ervino Besson, o Ver. Nereu D’Ávila, o Ver. Omar Ferri, todos integrantes da Bancada do PDT da Câmara Municipal de Porto Alegre.

Iniciando as saudações à nossa homenageada, Francisca Brizola Rotta, com a palavra, para falar em nome das Bancada do PT, do PDT, do PDS, do PV, do PL e do PDS, o autor do Requerimento Ver. Nereu D’Ávila.

 

O SR. NEREU D’ÁVILA: (Menciona os componentes a Mesa.) Minhas senhoras e meus senhores. A dona Quita Brizola Rotta poderia, certamente, receber este honroso título de Cidadã Emérita da Cidade de Porto Alegre talvez por ter em sua biografia a imensa responsabilidade de ter criado, acalentado e orientado aquele que viria a ser um dos maiores talentos políticos da atualidade e um guia político que nos orienta na nossa filosofia política, o Governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola. Certamente o destino lhe reservou esta responsabilidade, que ela quando o orientava, após a morte violenta de seu pai, que ele viria a ser e a prestar para este País os enormes serviços que ainda, graças a Deus, continua prestando, ela poderia também receber este título, certamente também poderia pela sua obstinação e a sua vivência política, nunca alheia, nunca às costas dos movimentos políticos, inclusive com clara opção política, aliada ao seu irmão famoso, sempre cumprindo inclusive missões partidárias. Certamente que poderia por aí receber o título. Mas a mim me inspirou a instituição desta carta outogatória de cidadania perene Cidade de Porto Alegre, também, mas muito além nos contornos da sua personalidade, foi inspirada esta concessão naquilo que, ao meu modo, ao meu juízo e salvo melhor interpretação, porque os momentos mais negros, mais dolorosos e mais cruciantes que este País viveu ao longo de sua história que foram os obscuros anos de uma ditadura militar implacável que hoje o Brasil se regozija de ter se livrado. E ali, exatamente ali, naqueles anos em que muitos que deviam favores ao Governador Brizola, quando Governador deste Estado, e nós éramos testemunhas, sequer pronunciávamos o seu nome de medo de qualquer represália muitos políticos que foram criados e cevados a sua sombra, embaixo do seu prestígio, trocaram de partido e escondiam e escamoteavam o seu passado, porque poderia representar alguma coisa. Naqueles momentos em que verdadeiramente se mostraram, não os valentes físicos, não os boquirrotos de discursos, mas se mostraram os bravos, os fortes e os valentes perante a sua Pátria, perante a sua consciência cívica, não se acovardando diante das tropelias daqueles tempos tristes, cinzentos e que jamais, Deus há de nos ouvir, voltarão aos horizontes desta Pátria. Naqueles momentos é que, altaneiramente, se mostraram os homens e as mulheres de fé no seu País, os homens e as mulheres que acreditavam que um dia a democracia voltaria a vicejar nos verdes campos, nas nossas terras. Ali, verdadeiramente, destacaram-se aqueles que nasceram para a grandeza, para a sobranceria, não para a pequenez, para o amesquinhamento. E foi ali, depois de uma desonrosa descarga de ódios e de violências, inclusive em seus lares, que nossos líderes foram cassados, esganiçados, perseguidos e atirados nas prisões. Pois foi, exatamente, após, um tempo em que não se tolerava mais tamanha indignidade com os filhos, que nada mais fizeram do que servir este país civicamente, tanto em Jango como em Brizola, os nossos líderes maiores, diante de 64, apesar das tropelias e de todas as violências, jamais encontrou-se nada, absolutamente nada, que onodoasse (sic) as suas vidas. E foi o brasileiro Brizola que mais esteve ausente deste País por força dos escalões da ditadura. E ali então, quando emergia um movimento que era do fundo das consciências, um movimento que se caracterizava, acima de qualquer postura, a não ser a postura de resgate da dignidade nacional, que foi o movimento pela anistia. E ali, como na nossa vizinha Argentina, mulheres corajosas, mulheres que tinham o destempero de enfrentar as baionetas, insurgiram-se contra os estertores da violência e agigantaram-se perante esta nação, buscando de porta em porta, muitas vezes lhes sendo batidas na cara, com a desfaçatez dos poderosos que, depois, nos cargos políticos pós-revolução, vieram querer dar lições de civismo e de democracia. Mas não. Mulheres uniram-se em torno do movimento da anistia. Todas elas engalanadas nos seus brios de dignidade política, dignidade pessoal e autoridade cívica. E entre elas, sobressaiu-se então a figura gigantesca de Kita Brizola, juntamente com outras do porte de Lícia Peres, Lígia Mena Barreto e tantas outras, algumas já desaparecidas, e que aqui aproveitamos para preitear-lhes a sua memória, também prestando-lhes uma homenagem, embora tardia mas nunca esquecida dos nossos corações. Mais do que uma pessoa, foi uma causa. Mais do que a Kita, foram dezenas que foram se somando aquela luta. E, naqueles tempos, quem os viveu diuturnamente, lembra-se como eram difíceis, como eram penosos, como eram sofridos, e acima de tudo, como não avançavam de acordo com o tempo normal. E foi ai que inspirou-nos esta idéia. E dona Kita, mais do que ninguém, sabe e divide este galardão com aquele punhado de bravas cidadãs que souberam empunhar aquela bandeira gloriosa da anistia política. Ela não foi doada de cima para baixo, não, como querem registrar ao anais de uma historia oficiosa. Ela foi buscada de pouco em pouco com muito ardor, com muito sofrimento, com muita amargura, mas ela foi empalmando a consciência cívica da nação. Foi empalmando aqueles que  já estavam querendo dar um basta ao poder discricionário, e não tinham atentado ainda para um pulmão de respiração que pudesse traduzir um anseio já fortemente canalizado e politicamente conseqüente. Então foram elas que historicamente anteciparam-se a todo um desejo da nacionalidade que era a anistia política. E quando se vê as fotos, por exemplo, de brasileiros reunidos em Lisboa, num encontro histórico, lá estão as gloriosas, as abnegadas, as voluntariosas, líderes da anistia, reunidas com o , ainda, então exilado Leonel Brizola, no famoso e nunca jamais esquecido encontro de Lisboa. Então, exatamente nesta postura, que  certamente, este ato não ira nada mais do que ajudar a resgatar, porque definitivamente a luta pela anistia, e o nome desta plêiade de mulheres valentes, no sentido cívico da palavra, já esta inserido nos anais da historia brasileira. E hoje nesta tarde radiosa e flamante, pelo seu conteúdo altamente explosivo de fortidão cívica, de fortidão democrática, esta causa da anistia política, agora, estará inserida na historia política de Porto Alegre através dos anais desta câmara. E nós não fizemos nada mais nada menos que apenas aflorar o desejo, que era o desejo desta cidade e deste estado, de outorgar este titulo, significativo, um pouco até, em relação aos demais pela sua imensa estatura histórica.

“O valor das pessoas não se mede pela vida obscura ou pomposa que uma pessoa possa levar”, já disse um famoso escritor; o valor das pessoas se mede pelas idéias que elas possuem e pelos sentimentos que elas comunicam aos seus semelhantes. Foi através desses atos de bravura cívica, consubstancio na luta pela anistia que esta pessoa Francisca Brizola Rotta inseriu-se no perfil daquelas personalidades que engalanam a historia da reconquista do direito dos pobres naquele mais sagrado direito seu, que é o direito à liberdade. Hoje, se regozijamos a vigência dessa plena liberdade no pais, certamente encontram-se lá, em atos isolados ou coletivos, como a luta pela anistia, essa conquista dessa plena liberdade.

Portanto, a luta valeu a pena; a luta fluiu e resultados; a luta trouxe a sua conseqüência, e nós a estamos vivendo. Por isso, devemos ser, pelo menos, justos para reconhecer àquelas pessoas que fizeram a história, que ainda estão fazendo. Ela, certamente, está com o coração “vibratio”; está com o seu espírito consolado, por que viu e vê, inclusive com essa presença magnífica de pessoas no plenário da câmara, que a luta da sua vida não foi em vão. Nós não queremos mais nada para nós do que  glórias vãs, do que coisas supérfluas, nada mais queremos para adornas as nossas personalidades, com gloria de ter sido reconhecido como um personagem que acionou a historia. Por isso ela tem o direito, hoje, de estar com o seu coração pulsando mais forte e mais feliz. (Palmas.) Até porque aquele que ela ajudou a embalar nos seus primórdios tempos está cumprindo, rigorosamente, o seu fabuloso papel histórico de independência, de altivez, de personalidade, que não é e que não vai ao som dos clarins dos interesses pequenos de políticos como atualmente está-se vendo, que tem a coragem de permanecer, às vezes, só para demonstrar que não era o único dono da razão, que tem uma visão além do horizonte;  e ela também orgulha-se de ter embalado, de ter feito e ajudado a construir a personalidade fantástica de Leonel Brizola, e que ontem, ainda demonstrou que é, efetivamente, e fora de qualquer dúvida o maiôs líder de massa deste pais, porque ontem conseguiu, e hoje o Jornal do Brasil estampa em pagina inteira, em pagina colorida duzentas mil pessoas mobilizadas no Rio de Janeiro. Ah! Pobre presidente se pudesse reunir 1% de massa, como reuniu Leonel Brizola. Então, creio que dona Quita Teria outros motivos para receber este titulo, mas situei apenas no contexto histórico. Ela como Getúlio disse na sua carta inesquecível; quanto mais passa o tempo mais se vê que Getulio tinha razão. Ah! Como tinha! Ninguém jamais  provou um ato de improbidade de Getulio Vargas. E, ele deu um tiro no coração, por vergonha de ver alguns auxiliares em atos que o envergonharam, porque ele era homem de vergonha. Coisas diferentes acontecem agora. Muito diferente.

Então, eu creio e encerro dizendo que este ato é mais do que um ato formal, é um ato simbólico; encarna em si o fantástico poder de quando ela em suas mãos acariciar o diploma de cidadã emérita da cidade de Porto Alegre; ali estarão regurgitando figuras que umas já se foram para sempre e têm o nosso respeito, o nosso carinho e a nossa lagrima de homenagem. Outras que ainda aí estão a acompanhá-la, mas, acima de tudo, desse diploma de cidadã emérita, está consubstanciada uma luta e, como dizia Fernando Pessoa, foi uma luta que valeu a pena, porque a alma não era pequena. Por isso, D. Quita, aqui está a nossa homenagem que eu tenho, lembrado aos vereadores presentes que transcende a este plenário lotado de amigos, familiares e de pessoas  engajadas nesta luta que não acabou, muito pelo contrario, está apenas iniciando.

Peço licença para dizer muito mais a este Plenário, a estes 33 Vereadores, a cidade de porto alegre e o Rio Grande do Sul estão se ajoelhando à estatura cívica que V.Sª representa; o meu abraço e este registro em nome de todos. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Antes de passar a palavra ao próximo orador, gostaria de destacar entra tantas personalidades que nos prestigiam, a presença honrosa do Ver. Carlos Eduardo Vieira da Cunha, nosso companheiro. (Palmas.) Atualmente em missão partidária, que espero vitoriosa.

Com a palavra, para falar em nome da Bancada do PDT, o Líder do partido nesta casa o Ver. Omar Ferri.

 

O SR. OMAR FERRI: (Menciona os componentes da Mesa.) Teria se lutado em vão dona Quita, teria a luta dos nossos líderes de ontem, teria sido ela deflagrada, em vão. É bem verdade tudo aquilo que o Dr. Nereu disse. Se lutou pela democracia, se lutou pelo retorno ao estado de direito, principalmente se lotou pela anistia dona Quita, uma luta muito forte, muito vigorosa, muito emotiva, muito cheia de ideais. Eu bem me lembro  duas das pessoas que estavam sempre a frente de todos esses movimentos, que na sua abrangência eram movimentos endereçados e dirigidos a libertação do povo brasileiro. As mulheres do Rio Grande do Sul estavam à frente das mulheres do Brasil. E duas delas presentes nesta preclara Mesa, estavam a frente destes movimentos aqui no Rio Grande do Sul, com repercussões em toda Pátria brasileira e delas, eu destaco a Lícia Peres, destaco dona Quita, a bravura, a coragem, o sentimento de honra da senhora, aquele instinto autóctone, selvagem, gaúcho pampeano de pessoa franca, que vomita que diz, que trombeteia, que proclama as verdades antes, durante e depois, sempre. (Palmas.)

Como se pode medir uma pessoa? Será que se mede pela idade? Pois se assim entenderem de medir a dona Quita eu direi aos senhores que ela ainda tem aí pelos 18, 25 anos não mais. (Palmas.)

Lembro-me dona Quita, me lembro, era necessário, que me desculpe o Nereu, era necessário que o Partido através de sua Liderança também se fizesse presente aqui para homenagear a dona Quita dando uma raiz, um verniz, um cunho partidário, o cunho daquele Partido que era o Partido Trabalhista Brasileiro. O Partido que foi massacrado pelas forças da repressão quando foi deflagrado o golpe militar contra a nacionalidade, liderado pelos militares que traíram a Pátria em 1964. (Palmas.)

Lá nasceram os grandes valores, forjados na luta contra aqueles que cobriam de vergonha, de escuridão e de opróbrio a Nação brasileira e nessa escuridão brilhava uma luz, brilhava um sol, brilhava um farol que estava nos comandando e que estava conduzindo a nossa luta, um movimento que era inspirado e que nascia lá fora, em outros países, em  outras paragens, em outros mundos que aqui chegava conduzido pelo vento minuano, era o vento “Brizolista” que tomava conta de todos nós e se refletia na Dona  Quita e se esparramava por este Brasil e agora eu retorno a minha pergunta dona Quita, nós teríamos lutado em vão? Mas como pode o Brasil, como pode o povo brasileiro, como podem aqueles que representam ainda o antigo trabalhismo, como podem esquecer as verdadeiras causas do golpe que visava impedir a luta pela nacionalidade, pelas reformas de base, pela reforma agrária, pela reforma urbana, pela lei de remessa de lucros, pela lei que tinha por objetivo disciplinar a entrada do capital estrangeiro que veio aprisionar e escravizar a Pátria. Esta era a luta, esta era a mensagem de um grupo de homens que tem na mensagem a substância da chama revolucionária. Será que lutamos em vão, dona Quita? Às vezes,arriscamos a vida, atravessamos estas fronteiras. A polícia nos perseguiu, a polícia nos prendeu e nos torturou, a polícia nos baniu. Será que teríamos lutado em vão? Por que acontece todas estas coisas hoje? Porque se institucionalizou a corrupção neste País; porque um Presidente é eleito e transforma o cargo de Presidente da República num grupo de valhacoutos com um único objetivo de tirar proveito, como aves de rapina que estão se apossando das riquezas nacionais, liderados por quem, dona Quita? Pelo Presidente da República. Não, não lutamos em vão.

Dona Quita, haveremos de retomar as idéias, o ideário das sagradas bandeiras revolucionárias empunhadas por Leonel Brizola e tantos patriotas que queriam o bem deste País. Não lutamos em vão. Acho que a luta vai continuar; acho que o seu irmão, acho que o comandante Leonel Brizola ainda tem muitos serviços a prestar a este País. Acho que nós devemos voltar à praça pública, acho que nós voltaremos a reconquistar nosso espaços populares, acho que nós deveremos empunhar a bandeira da sublevação nacional em favor da reforma das estruturas e do moralismo. Estamos prontos, dona Quita. Continue com a sua luta, com a sua vibração, com o seu jeito, muitas vezes meio assim de Sancho Pança a proclamar as verdades, a denunciar as verdades. Continue nesta trajetória, não sucumba, porque haveremos de projetar a chama daquela época gloriosa. A senhora tem filhos aqui! Tem netas, como são lindas! A senhora tem um patrimônio político, social, moral e ético.

Dona Quita, vamos continuar lutando em favor do João, em beneficio do partido, da população esmagada por esta situação tão desastrosa, e tão problemática em caráter humano e social.

Pode empunhar a bandeira dona Quita, chame as suas companheiras, nós vamos tomar conta das ruas, reiniciar um movimento da redenção nacional. O País está perplexo e aguardando uma voz que agora não virá do Uruguai.  Virá do centro-leste do País. E o Rio Grande, junto com Brizola e com Quita estará pronto e de pé para salvar a Nação brasileira. Muito obrigado. (Palmas.)

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Senhoras e Senhores, vamos agora assistir um ato aparentemente singelo, mas de grande profundidade.

Convido o Ver. Nereu D’Ávila, como autor da proposição, para em nome da Câmara Municipal de Porto Alegre, do povo de Porto Alegre que para cá nos trouxe, a entrega do diploma, a outorga do título de Cidadã Emérita à Sra. Quita Brizola.

 

(É feita a entrega do título à Srª Quita Brizola.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: É com prazer que passamos a palavra a nossa homenageada Srª Francisca Brizola Rotta.

 

A SRA. FRANCISCA BRIZOLA ROTTA: (Menciona os componentes da Mesa.) Este título que me é conferido pela Câmara Municipal de Porto Alegre, honra-me sobremaneira. Sensibiliza-me a lembrança de conferir-me o título de Cidadã Emérita, com que fui distinguida pelo Vereador Nereu D’Ávila e emociona-me o fato da indicação merecer a aprovação dos demais Vereadores, aos quais estendo os meus agradecimentos.

Sem querer entediar os Srs. Edis e os demais amigos que me confortam com suas presenças, desejo aproveitar esta oportunidade para falar um pouco da minha vida, marcada, desde tenra idade pela luta política do Rio Grande e do Brasil.

Meu pai, José de Oliveira Santos Brizola, foi meu primeiro referencial político, militava no Partido Libertador, por cujas forças lutou durante a Revolução de 1923. O seu assassinato, pelas tropas republicanas chefiadas pelo Coronel Vitor Dumoncel, no dia 11 de outubro de 1923, ocorreu por ironia quando já estava assinada a paz entre os Maragatos e Republicanos, despertou-me dramaticamente para a atividade política, a qual estou ligada até hoje. No momento imediatamente após o falecimento de meu pai já pude vislumbrar o grande papel desempenhado pela mulher em nossa sociedade.

Viúva, com dois filhos pequenos, coube a minha mãe Oniva de Moura Brizola, lá no interior, com sua simplicidade, orientar e iniciar a sua prole no caminho da educação, alfabetizando-os e transmitindo-lhes os seus modestos conhecimentos.

As adversidades, os sofrimentos da minha infância me proporcionaram a consciência de que, para reparar as injustiças era imperioso que participasse ativamente da vida política do meu País. Assim é que orgulho-me de ser fundadora do Partido Trabalhista Brasileiro em Passo  Fundo e de ter participado da criação do movimento nacionalista feminino, então organizado em todo Brasil, para lutar pela nossa soberania nacional e pelas riquezas de nosso solo.

Os slogans: “o petróleo é nosso” e “esta terra é nossa” até hoje despertam em mim um sentimento de resistência e determinação. Sobretudo neste momento em que o governo brasileiro, curvando-se aos interesses internacionais e as pressões dos traidores da Pátria, desenvolve uma política de privatização tão escandalosa quanto prejudicial aos reais interesses do Brasil.

Nem mesmo a Petrobrás, orgulho de todos nós está a salvo desta insanidade. Querem fazer com ela o que fizeram com outras empresas de importância estratégica para o desenvolvimento do Brasil. Trocá-la por papéis podres é subtrair-nos um pouco mais da nossa precária independência. As privatizações até aqui realizadas, só resultaram em emprego e em corrupção e em prejuízos ao País.

Srs. Vereadores posso vos afirmar, com certeza, que não relutarei em empunhar a bandeira brasileira em praça pública, caso esses vendilhões, insistam com esta campanha sórdida contra a nossa Petrobrás, a empresa nacional que mais tem contribuído para o nosso desenvolvimento tecnológico.

Privatizá-la constitui-se numa indecência! Contra a indecência eu me rebelo!

Sr. Presidente, Srs Vereadores. Perdoem-me a emoção e permitam que rememore um drama pessoal que abalou meu entusiasmo, como se Deus estivesse testando a minha capacidade de superar as adversidades e temperando o  meu ânimo para enfrentar os momentos difíceis que ainda estariam por vir. Bem nesta época de criação do PTB e das lutas nacionalistas, ainda jovem, perdi mau marido Miro Rotta, assassinado por um louco que invadiu a Prefeitura de Passo Fundo, onde era funcionário.

Não vos enfado. Sigo em frente.

Uma solenidade como esta me instiga e inflama e me faz recordar os grandes momentos de nossa história moderna, dos quais participei anônima, mas decididamente. Assim foi a campanha da legalidade, a maior mobilização popular política acontecida no Brasil. Com o povo decidido a garantir sua soberania. Talvez tenhamos perdido ali naqueles momentos a grande oportunidade de derrotarmos o colonialismo que tanto nos tem sacrificado. Pois na campanha da legalidade lá estava eu de novo, alistada como atiradora e enfermeira, lutando pela posse do Presidente João Goulart.

Logo após, vivemos um momento de grande riqueza cultural e política. Politizava-se o povo brasileiro. Lutava por reformas modernizadoras que lhe permitiriam um salto na qualidade de vida. Foram quase três anos de afirmação da vontade popular bruscamente interrompida pelo golpe de 1964.

Aí estão de novo, aliadas, as forças colonialistas e os serviçais tupiniquins, freando o nosso desenvolvimento autônomo! Implantaram uma ditadura militar.

Fui cassada, respondi a inquéritos, submeteram-me a interrogatórios infamantes e humilhantes. Abalada física e psicologicamente licenciei-me para tratamento de saúde do IAPB, onde era funcionária. Nem assim deixaram de me perseguir. Fui notificada pelo então interventor do IAPB, Gen. Celso Menna Barreto, que caso não me apresentasse imediatamente seria presa pela polícia de choque. Gen. Celso Menna Barreto! Ao repetir o seu nome, talvez não consiga reproduzir o desprezo que me inspira! Não apenas por ele, mas por todos os outros que como ele exercitaram sua maldade, sua covardia contra pessoas que tinham como crime apenas as suas convicções e idéias. Sem direito de defesa, aposentaram-me com 12 anos de serviço e com vencimentos proporcionais.

A perseguição continuava, expurgaram do exército meu filho Irany Brizola Rotta, então Capitão do Exército. Cercearam minha liberdade e magoaram-me com todo tipo de injúrias e calúnias assacadas contra meu irmão Leonel Brizola. Não desisti!

Por ocasião dos atos comemorativos do ano internacional da mulher, no ano de 1978 na Cidade do México, integrei-me ao movimento feminino pela anistia, liderado nacionalmente pela valente companheira Terezinha Zerbine.

No Estado do Rio Grande do Sul junto com as companheiras Mila Cauduro, Lícia Perez, Angelina Guaragna e as inesquecíveis militantes Maria Flor Vieira e Lígia Menna Barreto Costa dediquei-me a mais generosa das lutas, ou seja a de trazer de volta à casa tantos bons patriotas punidos com o banimento e o exílio. Recuperar a liberdade e os direitos políticos de milhares de brasileiros privados de suas cidadanias, unicamente por sua convicção e seu amor pelo povo brasileiro.

Na oportunidade procuramos diversas entidades representativas da sociedade como OAB, ARI, Diocese de Porto Alegre, etc. Para reforçar a representatividade do nosso movimento e viabilizá-lo. Uma das autoridades que visitamos foi a 1ª dama da época, Dona Ecléia Fernandes que se negou a nos receber. Depois da anistia passou a posar de democrata.

Esta homenagem que me fazem Srs. Vereadores, considero estendida àquelas companheiras que são mais talvez, merecedoras que eu própria.

Na luta pela anistia e pela liberdade de nossos irmãos travamos muitas lutas que resultaram em vitórias, uma delas foi a libertação do brasileiro Flávio Koutzii preso pela ditadura Argentina. Foi uma luta difícil, mas vencemos! Hoje Deputado Estadual, por outro partido que não o meu, de vez em quando nos dá umas alfinetadas. Sinto-me feliz por ter colaborado modestamente pela sua libertação e retorno à vida política, defendendo ideais que não são as minhas, mas que tem como qualquer um, todo o direito de defender. Isto é democracia!

Com a anistia e a reorganização dos partidos políticos ajudei a fundar o Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB, que nos foi usurpado escandalosamente.

Logo após assinei a ata de fundação do PDT, herdeiro natural e legítimo do trabalhismo de Vargas, Pasqualini e João Goulart.

Na atividade partidária lutei, como luto até hoje pela valorização da mulher, pela sua conscientização e pela sua incorporação ao processo político nacional.

Para encerrar Sr. Presidente, Srs. Vereadores, gostaria de reafirmar que não darei por encerrada minha militância política enquanto tiver forças para lutar ao lado deste povo tão bom, quanto sofrido e explorado, no intuito de libertar-se da opressão colonialista e da construção de um País mais justo e fraterno, onde todos indistintamente tenham acesso a uma vida digna e honrada. Muito obrigada.

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h37min.)

 

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